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A difícil decisão de não jogar para a plateia

Reitor Paulo Burmann tem dito que instituição tem recursos para se manter em dia até setembro
Foto: Renan Mattos (Diário)


O reitor da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Paulo Burmann, tem tido, ao longo desse segundo mandato, um desgaste interno um tanto expressivo com a comunidade do lado de dentro do arco. Algumas situações têm, ultimamente, o colocado em rota de colisão com certos segmentos, ainda que ele mesmo negue. A mais recente delas é quanto à necessidade de ajustes no quadro interno do campus principal e demais campi ao observar um decreto federal que obriga a universidade a reduzir o quadro de FGs, as chamadas funções gratificadas.  

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Essa é uma situação que atinge frontal e invariavelmente a todas instituições públicas federais de ensino superior. Ou seja, é cumprir ou cumprir. Ainda assim, o corporativismo e o classismo, tão arraigado a determinados setores, impedem com que se veja o cenário como ele realmente é: o de uma recessão que atinge a todos os poderes. Bem verdade que alguns muito mais penalizados que outros. Mas o fato é que cabe a Paulo Burmann, por estar na condição de reitor, agir e ir ao encontro do que a União determina, neste caso em específico.

A UFSM tem hoje uma estrutura sexagenária e que, com o passar do tempo e das gestões, não tratou de se atualizar e que, cedo ou tarde, teria de promover ajustes. É bom que se diga que dentro da universidade não há CCs (cargos em comissão), usados para lotear as administrações públicas com critérios duvidosos. Logo, não há demissão de servidores com o ajuste dessas funções dentro da universidade. 

Ainda que a revisão das FGs se dê por necessidade e imposição federal, a gestão Burmann já vinha, nos últimos anos, sinalizando que haveria necessidade de otimização. Os decretos da União apenas aceleraram o processo. Ajustar e modernizar são situações já vivenciadas pelo mundo - tanto na iniciativa privada quanto no setor público - e que a UFSM passará a respirar esses novos ares. Burmann reiterou, na reunião do Conselho Universitário (Consu) desta segunda, que 57 FGs serão remanejados da própria reitoria para outras unidades de ensino como uma forma de mostrar que a reitoria também está inserida nesse contexto de adaptação.

Talvez esse seja o maior desgaste do reitor, porém não o único. Também, recentemente, foi alvo de críticas quanto à moradia estudantil e quanto a um regramento maior no controle na comercialização de bebidas alcoólicas dentro das dependências da UFSM - o que foi aprovado pelo Consu.

Mas o fato é que, gostem ou não, tenham votado ou não, Burmann é o reitor. E ele, sempre que demandado, tem sido ou, ao menos, tentado agir como um gestor. E, assim, dar os encaminhamentos necessários que a instituição precisa tomar. Exemplo disso são as revisões contratuais com empresas terceirizadas que a UFSM tem promovido e que, infelizmente, se traduzem em cortes de postos de trabalho. Alguém tem que fazer frente ao momento sob pena de um sacrifício maior: o engessamento da universidade. E isso pode replicar nas mais variadas formas: desde o comprometimento da produção científica a um colapso total da saúde pública junto ao Hospital Universitário, o único 100% SUS para mais de 40 municípios gaúchos.

A situação da universidade não é nada confortável nem irá melhorar com os ajustes dos FGs, mas no conjunto da obra é preciso observar o macro: é ao mapear os pontos mais nevrálgicos e essenciais que a universidade poderá - e já o tem feito - se preparar para a tormenta que se avizinha a partir de setembro. É aí que o quadro irá se agravar, até porque a UFSM tem recurso para se manter em dia até setembro. Ao olhar o orçamento de forma realista e ao dizer isso, Burmann tem agido como o momento exige: sem dourar a pílula, como alguns da instituição gostariam que ele procedesse.

Os desdobramentos já são sentidos, em função da crise no campus principal e demais campi, mas eles poderiam ser ainda mais nocivos, se não houvesse pulso para agir agora. A UFSM pode ter um comprometimento no funcionamento do RU (restaurante universitário), na concessão de benefícios socioeconômicos a estudantes que precisam, entre outras situações. E o momento exige a aplicação de um remédio amargo. Ninguém gosta, mas é preciso.

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